sexta-feira, 20 de março de 2020

RODRIGO ABREU

PROCESSOS, AÇÕES E OBRAS DO ARTISTA EM TECNO BARCA III



EXU MIRIM


Parceria com Dig Ferreira e Natália Lobo











Fotos: Thales Lima



GURUFIM DO PASSADO MORTO

Celebração Coletiva com todes os envolvidos na residência e com moradores da Vila Progresso
Gurufim é enterro no morro. Enterro de sambista, de boêmio(a), de compositor(a), é despedida alegre, festeira e ritual. Prática comum nas décadas de 40, 50 e 60 nas favelas e subúrbio do Rio de Janeiro, é o famoso “beber o morto”. As origens desta prática estão nos ritos africanos trazidos pelos escravizados para o Brasil. Em 2012, partiu minha avó, favelada, descendente de indígenas e negros. Em meio a dor de sua partida, uma grande festa foi organizada em sua homenagem, aonde juntes, curamos nossas saudades. Deste então, ficou o desejo de promover gurufins que não celebrassem apenas o corpo físico morto, mas sim aquilo que precisa partir para que renasça o novo.


1. Serão coletadas histórias, objetos e memórias do passado dos residentes, que se juntarão às minhas neste período de viagem. Neste mesmo momento os residentes estarão sendo convidados para colaborar ativamente e criativamente na realização do Gurufim.

2. Preparação estética do espaço de celebração deste velório do passado.

3. O ritual, a confraternização coletiva, a celebração, a homenagem ao passado morto - corpo presente -, a despedida. Músicas, danças, bebidas, comidas, relatos, poemas, são bem vindos.

4. Enterro dos materiais coletados, será o fim da ação, o fim do "Gurufim do passado morto". No local do enterro ficará registrada “in memorian” uma lápide-registro da ação.
Aceitar a inevitabilidade do fim das coisas e da própria perecibilidade do corpo físico nos faz estabelecer outra relação com a morte, abrindo portas para desconstrução de antigos padrões, fomentando a transmutação da vida, celebrando-a como uma passagem cíclica, fluída, líquida, coletiva.
O tempo de duração da ação dependerá do número de envolvidos na realização da mesma, do montante de material recolhido e da animação e resistência física dos participantes. Idealmente a celebração seria realizada à noite, podendo adentrar na madrugada e a preparação ao longo da tarde do dia anterior. Podendo este planejamento, sem problemas, sofrer alterações em função do melhor funcionamento coletivo do espaço.
























Fotos: Thales Lima




DESENHO REGISTRO  IRMÃOS DA MATA 

por DIG FERREIRA




CAMINHADA NA MATA
|26.07.2019|
|Oferenda artística para Oxóssi, caboclo da mata, caminhada meditativa realizada na
madrugada na comunidade Vila Progresso, com Dig Ferreira e Rodrigo Abreu|

Urucum derramado sobre a mesa no dia da noite sem lua. Noite escura.
Profunda. Sombria. Energias humanas confusas. Muita coisa. O medo me
assolando, fazendo desequilibrar inteira. Passado de coisas passadas a voltar.
Insegura, coitada. Pensa na roupa do dia seguinte, no traje, acessórios, costuras.
Insegura, boba. A natureza não ataca por nada. Não é covarde a natureza, é sábia
e justa. Medo humano trava, medo bicho liberta.
Me olha nos olhos e diz:
- Preciso sair. Bota uma roupa que te proteja e vem comigo.
Assim foi feito. Atrapalhado, corrido, confuso, sem jeito. Mas feito sem titubear.
Parades na porta da casa das bruxas, casa delas mesmas, conectaram as forças.
Ela na frente, Oxóssi da Mata, flauta na mão. Eu atrás, a cambonar. Som da flauta
mágica. Oriente indígena era o som que saia.
Daí vem o caminhante, inseguro ao passar. Erramos o caminho e voltamos a nos
encontrar na escuridão da noite escura, rumo ao bosque da escola entristecida.
- Pq você veio de bota?
Pergunta o caboclo caminhante numa sedução possuidora. Invento uma história
para disfarçar nossa cruzada mística. Ganho de presente uma bagana para
alumiar as idéias, abrir as portas, deixar revirar.
- Não gosto de fumar sozinho.
E assim ele se esvaia, em sombras escuras das pontes suspensas. Rumo ao lado
de lá. NÃO TEMA. A natureza é justa, não ataca à toa.
Chegamos ao nosso destino. A oca ressoa bruta com a luz burra que aponto
certeira para o centro da roda. Legiões de morcegos a nos expulsar. A mata
silencia atenta. Apagam-se as lanternas. O som da flauta, num lamento de morte
felina. O som da mata, envolvido pela música, volta a ressoar. Tudo ecoa em
harmonia primitiva. Sons vindos de todo lugar. De costas, uma para outra, nós, as
irmãs da mata, vemos duas histórias desenrolar.
O céu é enorme. O medo, nada.
Holofotes foscos na escuridão, vagalumes começam a se apresentar. Fadas,
encantados, coisas lindas. Energia transmutada. Caboclo da Mata. Começo eu a
guiar a volta. Ela a cambonar.
Fumamos juntas a oferenda. Abrimos o portal. A morte é nossa companheira.
Saberei depois que é a morte, calma e lenta, como a beirada aonde o rio vem se
recostar. Salubá!


SALUBÁ NANÃ









Fotos: Thales Lima


"Nanã, a deusa dos mistérios, é uma divindade de origem simultânea à criação do mundo, pois quando Odudua separou a água parada, que já existia, e liberou do “saco da criação” a terra, no ponto de contacto desses dois elementos formou-se a lama dos pântanos, local onde se encontram os maiores fundamentos de Nana. Senhora de muitos búzios, Nana sintetiza em si morte, fecundidade e riqueza. Sendo a mais antiga das divindades das águas, ela representa a memória ancestral do nosso povo: é a mãe antiga (Iyá Agbà) por excelência.
Nana é o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte.
Ela é a origem e o poder. Entender Nana é entender o destino, a vida e a trajetória do homem sobre a terra, pois Nana é a História. Nana é água parada, água da vida e da morte.
Nana é o começo porque Nanã é o barro, o barro é a vida. Nana é a dona do axé por ser a orixá que dá a vida e a sobrevivência, a senhora dos ibás que permite o nascimento dos deuses e dos homens."
Performance de longa duração que se realizará no dia 26/07, dia em que no Brasil se comemora o dia da Orixá Nanã, sincretizada na umbanda como Santana, avó de jesus. Durante o períoodo da performance estarei em oração contínua, buscando através da resistência psicofísica, instantes de ‘religare’, força e sabedoria. Expectadores serão convidados a momentos de contemplação e meditação. Ao longo da residência, caminhadas meditativas, experimentos, conversas, ajudarão a entender melhor como e onde e por quanto tempo realizarei a ação. Um traje será realizado ao longo da residência, com materiais colhidos nessa caminhadas e ou mesmo com interferência de outras pessoas. Desejando tb experimentar estéticamente landart, como forma sustentável de interferência no espaço que ocuparei durante a performance, possivelmente acessórios e uma instalação tb serão construídos ao longo dos dias.



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